sábado, 3 de agosto de 2013

Nas entrelinhas de 1984


    Liga-se 1984, automaticamente, à análise da política; talvez a mais perfeita análise da política de hoje, dos anos passados e do que ela pode vir a se tornar. Mas muito mais do que isso, 1984 é uma análise cultural. Uma análise do pensamento, dos atos, do instinto, da própria natureza humana... Uma análise do homem em si. Orwell viaja por todos os cantos da consciência e, atrevo-me a dizer, da existência humana, utilizando-se de conhecimento de filosofia, sociologia; da observação e estudo do homem, como indivíduo e como parte de um todo.
    Não apenas trata o livro sobre a natureza da humanidade, mas também sobre sua artificialidade. Como pode o homem reprimir seus instintos mais básicos, suas vontades e conhecimentos óbvios, e mostra claramente que há muito mais de um meio de isso ocorrer. Em seus capítulos, a obra nos mostra até onde vai o ser humano, sua capacidade quando realmente deseja algo, quando deseja acreditar em algo, e como ele é capaz de moldar tudo, inclusive ele mesmo, para satisfazer-se. Nos são mostrados os limites do homem, suas maiores virtudes e fraquezas. É uma obra para ser lida, relida, analisada e então recomeçar todo o processo, pois lê-se cada página em um ritmo tão frenético (garantido pela narrativa impecável de George Orwell) que é impossível assimilar todos os detalhes com uma única leitura. Não é, em todo o caso, um livro de difícil compreensão. Toda a informação está ali, clara, literalmente preto no branco, só esperando, muito pacientemente, ser absorvida.
    O mais interessante é que, mesmo se tratando de uma ficção, muito do que é descrito no livro de fato ocorre - nas devidas proporções - na sociedade atual. É um livro que foi escrito em 1949, discorrendo sobre o ano de 1984, e que continua válido e relevante mesmo hoje, no ano de 2013. É um verdadeiro clássico, invulnerável à ação do tempo; pois o que faz os clássicos é sua natureza contemporânea, de serem lidos e compreendidos em qualquer época, de terem valor e credibilidade independente de quantos anos tenham discorrido desde que o primeiro volume foi impresso. Apesar de estampar, logo no título, uma data fixa, é um livro totalmente atemporal. 
    Mas o mais importante da obra de Orwell não é o quanto de novos conhecimentos ela nos traz, até porque, de conhecimento propriamente dito, nada realmente novo nos é apresentado. Nada é chocante, nenhuma informação, nenhuma frase é capaz de, por si só, nos trazer à luz algo que desconhecemos. Mas a obra como um todo tem uma relevância clara. Apenas ler o livro seria um total desperdício, uma perda de tempo. O que fica, após lido todo o seu conteúdo, é nossa própria mente, nosso próprio raciocínio. O leitor que lê uma obra e se frusta por não entender o que quis dizer o autor, não se pode considerar leitor, pois o auto da leitura consiste puramente em interpretação; assimilar o que lhe é apresentado e tirar suas próprias conclusões, raciocinar por si próprio a partir do texto que apreciou. A literatura serve, acima de tudo, para fazer pensar, para estimular nosso raciocínio, e não para nos empurrar ideias já prontas e mastigadas.
    Orwell nos apresenta sua visão, suas conclusões, mas não espera que as adotemos cegamente. Fazer isso seria, voluntariamente, sucumbir ao tipo de mentalidade imposta pelo Partido, em sua obra. Devemos apreciar cada livro como um objeto de reflexão - além de lazer - e botar nossa própria mente para trabalhar.

10 comentários:

  1. Gente, que resenha é essa? *--*
    Eu sempre vi esse livro na biblioteca da escola mas nunca me senti tão interessada por ele como agora, depois de ler esse post. Assim que voltar as aulas eu TEREI que ler esse livro.

    Parabéns pela resenha, anjo. :3

    Beijos, Tati ♥
    http://balanconasestrelas.blogspot.com.br/

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    1. Esse livro é muito bom, Tatiane! *-* Eu ainda não o reli por falta de tempo, e falta do livro -q (eu li emprestado do meu avô). Mas é assim, uma coisa de louco, me tirou o sono várias noites! *-*

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  2. Adoro esse livro, li duas vezes, sendo que a primeira não entendi quase nada (meu pai achou que com 11 anos eu já era bem grandinha para ler coisa de "gente grande") e ano passado reli com outros olhos. A primeira vez que li confesso que fiquei achando legal era o porco e os bichos falando e não a história que estava sendo revelada.
    Adorei a resenha!
    Júlia, Jubalubacity
    http://jubalubacity.blogspot.com.br/

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    1. Pais, sempre achando que a gente já é "gente grande" kkk Sei como é, passei por situações parecidas. Júlia, esse livro dos animais falantes não é A Revolução dos Bichos, do Orwell? Eu estou doido para lê-lo *-*

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    2. viajei totalmente, a capa é parecida e eu fiquei pensando no outro livro! hahahahaha é muito bom, recomendo superrr

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  3. Oi, tudo bem? :)
    Vi o recado no skoob e passei para visitar o blog. :) Adorei tudo por aqui.
    Muito bem escrita sua resenha, parabéns. Na verdade eu conheço o autor, mas nunca li nenhuma obra dele. Então, fiquei bastante curiosa agora.
    Beijos

    http://elaeseuslivros.blogspot.com.br

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  4. Vim te avisar que lhe indiquei para uma tag no meu blog!
    http://cantinholiteral.blogspot.com.br/2013/08/tag-1-meus-10-livros-favoritos.html

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  5. OI Victor, tudo bem?
    Gostei de sua resenha. Sempre leio coisas legais sobre esse livro e eu não tive oportunidade de ler ainda! Espero ter a chance em breve :D

    Abraços
    http://geracaoleiturapontocom.blogspot.com.br/ (passa lá ;D)

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  6. Como vão?

    Nunca tinha me enteressado por esse livro, ainda não me enteressei e acho que não vou me entessar, mas sua resenha ficou muito boa. Parabens

    http://mundodosmngas.blogspot.com.br/

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  7. ótima resenha, aumentou minha curiosidade (que já é enorme) em relação ao livro ^^

    http://www.ohmydogestolcombigods.com/

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