segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Impressões sobre "O Doador de Memórias"

  Poucas vezes tenho o costume de assistir a adaptação cinematográfica antes de ler o livro original. Mas dessa vez, foi isso que aconteceu com "O Doador de Memórias" (The Giver, no original), obra de Lois Lowry; a versão para as telonas foi dirigida por Philip Noyce.

  Devo confessar que assisti ao filme para ver se valia ou não a pena ler o livro. Com tantos YA's fracos sendo lançados e se tornando franquias, não é muito animador embarcar na maioria desses novos títulos. O fato de se tratar de uma distopia, tema que caiu no gosto do público e tem sido abordado de maneira superficial por vários autores, não ajudou muito. Mas, para minha surpresa, "O Doador de Memórias" é o primeiro de uma série de quatro livros, publicado originalmente em 1993 (ou seja, bem antes da Rowling lançar Harry Potter e criar o boom no mercado de literatura infantojuvenil e, posteriormente, para jovens adultos; e muito antes dos sucessos de vendas "Jogos Vorazes" e "Divergente"; e que fique claro que eu adoro a trilogia da Suzanne Collins).


  Um universo em preto-e-branco, higienizado e supercontrolado. Nesse ambiente, tudo é determinado por um conselho de anciãos, que decide dos maiores aos menores detalhes da vida de cada cidadão. A ordem é mantida pela total ignorância de cada indivíduo de qualquer coisa além de seu estreito universo pessoal e "profissional"; o fator crucial, porém, é a falta de memórias. Gerações e gerações inteiras vivem dentro de uma "bolha", raramente tendo contato com outras comunidades vizinhas, e sem nenhum vestígio de recordações ou registros históricos das civilizações passadas. A História completamente aniquilada.


  Lowry retrata esse cenário com grande habilidade em seu livro, e com a mesma destreza encara um grande desafio: narrar a descoberta das cores por um personagem que nunca as enxergou, e nem jamais soube que elas existiam. O leitor não tem conhecimento imediato desse fato no livro, e Lowry nos dá aos poucos pistas dessa realidade em tons de cinza. Já o filme entrega de bandeja: pelo menos o primeiro terço da adaptação é apresentado em preto-e-branco, retratando a visão de Jonas e dos outros personagens. Embora o efeito surpresa tenha se perdido um pouco, não há grandes prejuízos, visto que para quem não conhece a história, tudo só fará sentido com o decorrer da trama. A sutileza desse e outros detalhes dão grande qualidade ao longa-metragem.

 
Trailer do longa-metragem

  Com momentos densos e uma trama que fica mais pesada a cada capítulo, "O Doador de Memórias" superou em muito as minhas expectativas. Embora a produção hollywoodiana tenha adaptado alguns fatores (como a idade dos personagens) e injetado algumas cenas de ação inexistentes no livro (provavelmente para deixar a história com mais cara dos títulos atuais para o público jovem adulto), posso dizer que não sei se gostei mais do livro ou do filme. Cada um tem qualidades e carências consideráveis.  

  No livro, o final pareceu um pouco corrido, não desconexo, mas gerou uma espécie de "anticlímax". Já no filme, os relacionamentos dos personagens foram abordados de maneira um pouco mais aprofundada, embora dentro de  certos moldes "clichês" das produções americanas; há a vantagem de podemos observar outros pontos de vista além daquele do protagonista (semelhante ao que ocorre na adaptação de "Jogos Vorazes"), o que aprofunda a trama e causa maior empatia pelos personagens.

  Vale celebrar a atuação estupenda de Jeff Bridges (que também atuou como produtor do longa) e Meryl Streep. E, honestamente, eu quase nem percebi que a Taylor Swift estava no filme *cof cof*


  Agora, resta continuar a jornada pelos outros três volumes de Lois Lowry e esperar que tenham adaptações tão fiéis e belas como a primeira.

  Se você se interessou, pode gostar também de: 

  Jogos Vorazes - Suzanne Collins
  Divergente - Veronica Roth
  1984 - George Orwell
  Fahrenheit 451 - Ray Bradbury
  Laraja Mecânica - Anthony Burgess



Um comentário:

  1. Oi Victor,
    Ahhhh eu amo O Doador e também não sei dizer se prefiro o filme ou o livro. Achei que essa, foi de fato uma adaptação. O filme é como se fosse outra história, baseada numa excelente história. Os dois resultados me surpreenderam e me tocaram de maneira ímpar. Gosto da filosofia por trás de tudo, do livre-arbítrio e das enormes metáforas para a "mesmice". É um dos meus livros favoritos, por sua profundidade e por suas concepções tão distópicas e tão atuais ao mesmo tempo.

    Beijo,
    Mari Siqueira
    http://loveloversblog.blogspot.com

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