sábado, 8 de fevereiro de 2014

Fahrenheit 451

  Vamos falar de distopia? Mas baixem seus arcos, porque não é de Jogos Vorazes que vamos tratar agora (apesar da trilogia ser incrível!). Venho trazer a vocês um pouco de Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, um livro que vai além da política, criticando a sociedade e os indivíduos que a formam. Muito existe para ser dito da obra, e espero conseguir passar para vocês ao menos alguns dos aspectos mais importantes.

"As coisas que você está procurando, Montag, estão no mundo, mas a única probabilidade que o sujeito comum terá de ver noventa e nove por cento delas está num livro." - Fahrenheit 451, p. 125



  Devo começar ressaltando uma coisa que ficou clara para mim desde o início: essa distopia se destaca das outras por não ter, num nível facilmente perceptível, um grande governo opressor e totalitário. Embora, com a leitura, você possa perceber o que há por trás da aparente normalidade, o livro é bem menos explícito nesse ponto do que no 1984, outro grande título quando se fala em distopias (e você pode ver aqui o post sobre o livro). A obra de Orwell critica, sem rodeios, os governos totalitários e suas táticas de alienação. O romance de Bradbury, por outro lado, parte da alienação da população, que ocorre "espontaneamente", e é o que leva os governantes (quase nunca diretamente citados no livro) a poderem instaurar um regime abusivo. 
  Embora creio que muitos já tenham lido, ou pelo menos conheçam a história, resumirei nas linhas abaixo o contexto sobre o qual a trama é construída.
  

  Em algum ano no futuro, as pessoas vivem totalmente deslumbradas com a tecnologia. A televisão passa a ocupar o espaço de uma parede, e algumas pessoas chegam a ter 4 aparelhos em um mesmo aposento, transformando assim a sala de estar em um universo completamente diferente, em que você praticamente pode esquecer onde está e pensar que as pessoas na televisão são reais. Millie, esposa de Montag, o protagonista, chega a crer que as pessoas que vê em sua televisão são sua família, a ponto de interagir com eles. Os carros atingem velocidades absurdas dentro das cidades, e os motoristas atropelam pedestres sem se alarmar. Rádios se transformaram em pequenos dispositivos que podem ser acoplados aos ouvidos e escutados ininterruptamente.
  Nesse cenário, aproveitar um pouco de tempo ocioso é, literalmente, algo que pode ser punido pela lei. Ter posse de um livro, ou lê-lo, é o crime mais absurdo que uma pessoa poderia cometer. E assim, nessa sociedade tomada pela tecnologia, sem tempo livre e com valores morais completamente deturpados, não sobra tempo para pensar. 
  Em determinado momento do livro (atenção, alguns podem considerar isso spoiler!), você descobre que a inciativa de renegar o livro partiu dos próprios cidadãos. As próprias pessoas passaram a não ler o que as incomodava, o que discordava de seus pensamentos, até que, pouco a pouco, a aversão a qualquer coisa que pudesse causar um ligeiro desconforto foi crescendo, até contagiar toda a população. Em nome do "bem do povo", o governo designou uma tarefa controversa aos bombeiros: aqueles que antes apagavam incêndios agora são incumbidos de queimar qualquer livro que seja encontrado em posse dos cidadãos, evitando assim um mal-estar generalizado da sociedade, de modo que todos pudessem usufruir da vida sem nenhuma preocupação.
  Montag, o personagem que nos guia por esse universo distópico, trabalha no corpo de bombeiros. Entretanto, após conhecer Clarice, uma garota que faz perguntas demais e que contrasta tanto com as outras pessoas que conhece, começa a questionar aspectos de sua própria vida. E assim, Montag acaba sendo arrastado para o universo literário, e comete os piores crimes que poderia alguma vez ter cometido.



  A crítica mais forte de Fahrenheit 451 é dirigida, claramente, à supervalorização da tecnologia e a alienação pelos meios de mídia de massa; resultando na repulsão pelos livros. Como bom estudante de comunicação, não pude deixar de me empolgar muito com a leitura. Gastei muitos post-it's, mas valeu a pena, pois há muito nesse livro que vale guardar na memória! 
  Na estória, a força opressora do governo se faz presente durante as passagens que envolvem os bombeiros, mas é possível sentir em toda a obra a ameaça velada, o controle abusivo, as táticas de manipulação.
  Acho que vale chamar a atenção para dois pontos opostos na narrativa: a personagem de Clarice e o velho Faber. Enquanto Faber vê os livros como instrumento de conhecimento e erudição, acima de tudo, Clarice vê neles uma espécie de libertação, que a desperta para as coisas simples da vida. Da mesma maneira, o primeiro procura os livros para encontrar respostas; enquanto a garota descobre que eles levam a questionar muitos conceitos e elaborar novas perguntas. Essa "contradição" serve para ilustrar os vários aspectos da leitura, e nos leva a refletir um pouco sobre o assunto. Quem disse que a leitura deve ser sempre pesada, de difícil compreensão, e trazer sempre respostas prontas? E quem disse que a leitura como passatempo basta por si só, se não houver também algo com mais "conteúdo"?

  Esses são apenas alguns dos aspectos que a estória nos traz, e há muito mais reflexões e questões a serem levantadas sobre a obra. Por hora, encerro essa resenha aqui; e contenho minha vontade de falar sobre Schopenhauer, mas essa é outra história. 




14 comentários:

  1. menino, eu sou doida pra ler esse livro. É até uma heresia ser fã de distopias e não ter lido ainda xD
    confesso que quando vi o aviso em laranja, pulei a leitura rsrsrs
    adorei tua resenha, só me deixou com ainda mais vontade de ler. E que horror viver numa 'distopia' dessas, imagine dar fim aos nossos amados livros NÃAAAAO rsrsrs
    bjs <3
    http://torporniilista.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. oi, Ítalo,
    gosto muito de distopias, mas ainda não li esse livro, tenho que ler até pq pra mim, as distopias bestsellers que estç~~ao saindo por aí perderam um pouco a noção de como deve ser um livro desse gênero. Com certeza, está na lista de leituras.
    bjo
    www.letrasdesonho.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Aline! Esse post é meu; eu gosto de Jogos Vorazes, e li Divergente, mas não li outras dessas distopias recentes, nem tenho muita vontade. Continue acompanhando o blog ;)

      Excluir
  3. Tomei um grande gosto por distopias depois que li Jogos Vorazes e Divergente. Quando fui fazer uma busca sobre as melhores, encontrei esse livro. Agora com sua resenha eu sei o porquê.
    beijos!
    http://eu-ludmilla.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  4. Oi Victor!
    Olha eu não tenho um graaande apreço por distopias, mas no geral, acho-as muito interessantes. Não conhecia esse livro, vou pesquisar mais sobre.
    Com certeza tenho o pensamento da Clarice de livros 'libertadores' *-*' gostei muito muito mesmo da resenha, é bom conhecer algo novo de um ponto de vista tão bem exposto! Parabéns guris! O blog sempre ótimo!

    Mari Siqueira
    http://loveloversblog.blogspot.com

    ResponderExcluir
  5. Não conhecia o livro e já fiquei doida para conhecer esse mundo tecnológico e sem livros.... sou fã do gênero e esse livro me parece ser imperdível...

    bjsss

    Bianca

    Apaixonadas por Livros

    ResponderExcluir
  6. Já conhecia esse livro, embora ainda não tenha lido. Sou super a favor dessas distopias "não tão apreciadas" pelos jovens, e tenho muita curiosidade de ler todas. E essa parece ser incrível!

    Beijos,
    biblioteca-de-resenhas.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  7. Não conhecia esse livro, mas me interessei bastante!
    A resenha ficou ótima!
    Beijos

    Li
    literalizandosonhos.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  8. Oi, Victor!
    Cara, que livro massa! Já vi algumas coisas sobre ele, mas bem poucas. Agora estou com muita vontade de ler, porque como publicitária, sei que as mídias exercem um grande poder nas pessoas, principalmente a televisão e suas grandes emissoras, tipo a Globo, que aliás faz 4 anos que não assisto esse canal e nem seus afiliados o/
    Voltando ao livro, esse é um assunto que me fascina, distopias, e é muito interessante ver que a tecnologia e as mídias acabaram emburrecendo as pessoas do livro. É tipo Wall-e, sabe? As pessoas não tem mais afeições físicas, ficam alienadas ali. Ok, estou viajando um pouco rs.
    Como assim queimar todos os livros? Oh God, se um dia isso acontecer, espero que eu já tenha partido desse mundo.
    Adorei, de verdade!

    Beijos
    Rayssa
    http://diariosdleitura.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  9. Esse livro é sensacional, eu tenho ele como uma apologia aos livros rs
    Gostei bastante de sua crítica, ressaltou pontos importantes do livro. E, realmente, depois que falou é que eu notei: o governo é criticado de forma indireta, e principalmente através dos bombeiros.

    Obrigada por comentar lá no blog :)
    Mell Ferraz - Blog Literature-se

    ResponderExcluir
  10. Fahrenheit é muito bom! Uma das melhores distopias que eu já li - junto com Admirável Mundo Novo e 1984 que, por sinal, tem muito a ver com esse livro.
    Gostei bastante da sua resenha. :)

    Lisi Locatelli - http://devaneiosliterarioss.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  11. Ótima resenha. O livro parece ser ótimo, me deu muita vontade de ler. Refletir sobre leitura me alegra.

    P.S. Esses dias na livraria ouvi uma garota dizer para a outra "Vou comprar esse livro pra tirar foto e postar no instagram, deve ser chato ler." Eu juro que ouvi exatamente isso. Fiquei chocada com a capacidade que algumas pessoas tem de serem decepcionantes.

    umarcoirisdeletras.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  12. Oi Victor, excelente resenha. Tenho muita vontade de ler esses clássicos distópicos, mas infelizmente ainda não tive a oportunidade. Parece ser um livro com reflexões importantes.

    Beijos
    Caline - Mundo de Papel

    ResponderExcluir
  13. O bom do Bradbury é que ele escreve uma realidade de 50 anos atrás que reflete no nosso presente. Dele eu li o A Bruxa de Abril. E Distopia é Distopia!
    Abraços,
    http://cronicasdeumdelirante.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir